EDITAL Nº 01/2022, de 2022
PROJETO PRODUÇÕES DE MULHERES:
ROMPENDO SILÊNCIOS – PRODUÇÕES DE MULHERES SOB(RE) VIOLÊNCIAS
RESULTADO DO EDITAL NO FINAL DA PÁGINA
A palavra violência deriva do Latim “violentia”, que significa “veemência, impetuosidade”. Mas na sua origem está relacionada com o termo “violação” (violare). A violência abrange todos os atos de violação dos direitos humanos: civis (liberdade, privacidade, proteção igualitária); sociais (saúde, educação, segurança, habitação); econômicos (emprego e salário); culturais (manifestação da própria cultura) e políticos (participação política, voto).
A violência contra a mulher, segundo a Convenção de Belém do Pará (1994), é “toda e qualquer conduta, baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto no âmbito público como no privado”.
A partir disto, muitas discussões foram necessárias para que, em 7 de agosto de 2006, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionasse a Lei Maria da Penha (Lei 11340/2006), que pretende prevenir e coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, em conformidade com a Constituição Federal e os tratados ratificados pelo Estado brasileiro (convenção de Belém do Pará, Pacto de San José da Costa Rica, Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem e Convenção sobre a eliminação de todas as formas de discriminação contra a mulher). A Lei Maria da Penha aponta cinco tipos de violência contra a mulher: física, psicológica, moral, sexual e patrimonial.
De acordo com dados da ONU, a cada 10 mulheres no mundo, 7 já foram ou serão vítimas de violência. As sociedades, por muito tempo, não as reconheceram como violação aos Direitos Humanos e, em muitos países, a própria Lei permitia (e ainda permite) a submissão e a violência contra as mulheres. No Brasil, a violência contra as mulheres é um problema histórico, construído com base em tradições que reforçam a desigualdade e a submissão das mulheres em relação aos homens. A naturalização da ideia de submissão e hierarquia entre os gêneros impede que mulheres busquem ajuda ou denunciem seus agressores.
Este projeto receberá todas as produções realizadas por pessoas que se identifiquem como mulher e que viveram ou vivem qualquer situação de violência, reconhecendo tal produção como expressão da singularidade de cada uma. Ao longo da história, muitas mulheres, sobretudo as mulheres negras silenciadas pelo gênero e pela cor, encontraram modos de se manifestar que se entrelaçam a conceitos como o de dororidade, o de letramento de reexistência e o de escrevivências.
O conceito de dororidade (1), cunhado por Vilma Piedade, representa a urgência da dor da mulher preta – advinda das diversas formas do racismo e do machismo – que também se transforma em luta e em movimento. Esta luta e movimento está articulado aos letramentos de reexistência (2) – conceito proposto por Ana Lúcia Silva Souza –, isto é, as reinvenções cotidianas do uso das práticas de linguagens realizadas pelos sujeitos e que estão ancoradas nas suas histórias de vida. Eis o convite para escrever, viver e se ver por meio da reinvenção dos usos das práticas de linguagem. Escreviver (3), concepção de Conceição Evaristo, cuja potência também pode ser a autoria das mulheres como donas das escritas com histórias da vivência pessoal ou coletiva que incomodam e denunciam. Tal experiência possibilita o registro das injustiças, das dores e dos silêncios que de outra forma permaneceriam ocultos, como ocorre às pessoas que não são ouvidas. As escrevivências apontam para uma dupla dimensão: é a vida que se escreve na vivência de cada pessoa, assim como cada uma escreve o mundo que enfrenta.
1. DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
Este documento regulamenta as normas e os procedimentos a serem observados para participação no Projeto ROMPENDO SILÊNCIOS – PRODUÇÕES DE MULHERES SOB(RE) VIOLÊNCIAS do Instituto Langage.
1.1 Este edital tem como objetivos: promover a participação e o envolvimento de pessoas que se identifiquem como mulheres que viveram ou vivem em situação de violência; despertar o interesse pela escrita literária e as artes visuais; resgatar a criatividade presente em cada uma por meio de produções em diferentes gêneros.
1.2 O projeto será realizado em quatro etapas:
a) Inscrições online das produções realizadas;
b) Curadoria das produções enviadas para publicação;
c) Divulgação dos trabalhos selecionados;
d) Publicação em livro (individual e/ou coletivo).
1.3 A divulgação dos resultados será feita pelo site e redes sociais do Instituto Langage.
2. DAS INSCRIÇÕES
2.1 As inscrições são gratuitas e serão realizadas por meio de formulário online, no período de 16 de novembro até 31 de dezembro de 2022.
2.2 Poderão inscrever-se no projeto todas as pessoas que se reconhecem como mulheres e que estiveram ou estão em situação de violência ou qualquer forma de discriminação.
2.3 As produções inscritas poderão abranger diferentes temáticas desde que respeitem as especificações deste edital.
2.4 Para a inscrição, a candidata deverá preencher o formulário online (disponível no item 3.8 deste edital), ler e aceitar as regras do edital, e enviar sua produção em anexo (upload) no próprio formulário de inscrição. A finalização destas etapas implica na aceitação das condições estabelecidas neste edital.
2.5 Ao inscrever-se neste concurso, a candidata:
a) Autoriza a utilização e a divulgação das produções enviadas;
b) Declara estar ciente de que suas produções serão divulgadas e/ou expostas no site e nas redes sociais do Instituto Langage.
c) A candidata poderá optar pela publicação utilizando um pseudônimo ou a publicação anônima, caso deseje. A divulgação será feita a partir da autodenominação escolhida.
2.6 Cada participante poderá fazer a inscrição de uma produção, de acordo com o formulário.
2.7 Ao inscrever-se, a autora aceita, explicitamente, as regras constantes neste edital, assim como reconhece a soberania do Comitê Editorial.
3. DAS PROPOSTAS
As produções devem ser originais e inéditas, ou seja, não podem ter sido publicadas anteriormente.
3.1. Será eliminada deste edital, em qualquer etapa, a candidata que apresentar informações falsas ou descumprir quaisquer disposições do presente edital.
3.2. Serão aceitos diversos tipos de produções listados a seguir. Para a elaboração das produções, as candidatas devem ter como diretrizes:
a) O texto submetido na modalidade crônica é uma narrativa em 1a ou 3a pessoa, com subjetividade e reflexão livre.
b) O texto submetido na modalidade conto é uma narrativa breve escrita em prosa, na qual a candidata produza um enredo que apresente narrador, personagens e desenvolva-se em um determinado tempo e espaço.
c) O texto submetido na modalidade poema é uma composição em verso ou em prosa em que a candidata expresse seus sentimentos, ideias, percepções.
d) O texto submetido na modalidade carta pessoal deve compreender uma mensagem em prosa endereçada a um destinatário específico, com o qual se pretende estabelecer uma comunicação a distância.
e) O texto submetido na modalidade entrevista deve apresentar o registro escrito do diálogo mantido entre, pelo menos, dois interlocutores, que assumem os papéis de entrevistador e entrevistado.
f) O trabalho de artes visuais submetido na modalidade ilustração irá se mostrar a partir de representações gráficas, que possuem como função transmitir uma ideia ou pensamento, contar uma história ou contribuir para a construção de significados, podendo acompanhar textos ou apenas imagens.
g) O trabalho de artes visuais submetido na modalidade cartoon é basicamente um desenho em preto e branco, que se utiliza do humor para expor ou levantar questionamentos sobre acontecimentos na sociedade, que são atemporais, retratando o coletivo; podendo combinar a linguagem verbal e não- verbal para chamar atenção do leitor, levando-o a pensar de forma crítica e a debater o assunto.
h) O trabalho de artes visuais submetido na modalidade história em quadrinhos trata-se da arte de narrar histórias por meio de desenhos e textos dispostos em sequência.
i) O trabalho de artes visuais submetido na modalidade fotografia artística apresenta-se como representação fotográfica, tendo como objetivo expressar a emoção e a sensibilidade pela lente da fotógrafa.
j) O trabalho em Áudio e áudio visual (mp3 e mp4) pode ser apresentado como a gravação de voz ou som que retrate a situação de forma sensível.
3.3. Os textos devem ser digitados em fonte Arial, corpo 12, espaçamento entre linhas de 1,5, formato A4, margens superior e esquerda de 3 cm e inferior e direita de 2 cm, com o máximo de 3 laudas, e devem ser enviados em arquivo gerado por editores de texto, em formato editável (.doc, .docx).
3.4. Os trabalhos de artes visuais devem ser digitalizados (ilustração, charge, cartoon, história em quadrinhos), contendo apenas uma imagem por folha, formato A4, respeitando os limites de margem em 2 cm, assim como na modalidade fotografia artística, em formato .jpeg.
3.5. As produções de áudio e áudio visual deverão apresentar a configuração mp3/mp4.
3.6. As produções podem ser feitas em co-autoria, e deve ser inscrito somente por uma das autoras.
3.7. No momento da inscrição, as participantes deverão concordar com a publicação dos trabalhos inscritos e selecionados, cedendo automaticamente os direitos autorais da sua obra para a Editora do Instituto Langage.
3.8. Para realizar a inscrição, acesse: https://forms.gle/YVT4JXmakJoEZREo6
Certifique-se de preencher todas as informações, anexe sua produção e clique em “enviar”.
3.9. Feita a inscrição, a candidata passará por um processo seletivo com avaliação da produção, analisando se condiz com a proposta deste edital. A equipe designada para a avaliação participará deste projeto exclusivamente como curadores, evitando qualquer conflito de interesse.
4. DAS DISPOSIÇÕES FINAIS
4.1 A participante, titular dos direitos autorais de todas as produções, cede, a título gratuito e universal, todos os direitos autorais de todas as produções, como os direitos de edição, reprodução, impressão, publicação e distribuição para fins específicos, educativos, técnicos e culturais, nos termos da Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, e da Constituição Federal de 1988, sem que isso implique qualquer ônus ao Instituto Langage.
4.2 Os casos omissos neste Edital serão decididos pelo Comitê Editorial.
São Paulo, 16 de novembro de 2022.
Sergio Lopes Oliveira
Diretor do Instituto Langage
Este edital foi construído pelo grupo de trabalho do Instituto Langage composto por:
Andrea Lauermann
Mariana Negri
Vívian Rafaella Prestes
Letícia Faggian Giovannetti
Patricia Helena Malachowski Choueri
Karina Menegaldo
Jucimara Nascimento
Ludmila Tavares
Jessica Malaquias
Monica Campos
Clara Powaczruk Affonso Da Costa
REFERÊNCIAS
(1) PIEDADE, Vilma. Dororidade. São Paulo: Editora Nós, 2017.
(1) OLIVEIRA, Jéssica Cristina Alvaro de. Dororidade: A união de mulheres pretas através da dor. Ayé: Revista de Antropologia, v. 3, n. 1. Acessado em: https://revistas.unilab.edu.br/index.php/Antropologia/article/view/751.
(1) SIMON, Carolina Russo. Resenha: Dororidade, de Vilma Piedade. Revista Latino Americana de Geografia e Gênero, v. 12, n. 1, p. 246250, 2021.
(2) SOUZA, Ana Lúcia Silva. Liguagem e Letramentos de Reexistências: exercícios para reeducação das relações raciais na escola. Linguagem em Foco, v. 8, n. 2, 2016. Acessado em https://revistas.uece.br/index.php/linguagememfoco/article/view/1908/1697.
(3) EVARISTO, Conceição. “Não escrevemos para adormecer os da casa-grande, pelo contrário”, diz Conceição Evaristo sobre escritoras negras. 2017. Acessado em: https://tvbrasil.ebc.com.br/estacao-plural/2017/06/nao-
escrevemos-para-adormecer-os-da-casa-grande-pelo-contrario-diz-conceicao.
(3) Blog da autora. Disponível em: http://nossaescrevivencia.blogspot.com/ Acesso em: 13 nov. 2022.